O Deutsche
Bank
Um Banco de Todos os Terrores - com Hitler ou Merkel
A visita
indesejada de Angela Merkel, chanceler e gestora política do imperialismo
alemão e do capital financeiro internacional, ao nosso país coloca
naturalmente a questão: O que é que representa esta senhora? As
suas políticas de subjugação económico-financeira têm atirado os trabalhadores,
o povo e as comunidades do nosso país a um abismo social, económico e a um
processo político acelerado de fascização. Fomos então vasculhar na história dos
últimos cerca de noventa anos da Alemanha, tendo encontrado aspetos importantes,
particularmente sobre o Deutsche Bank. Num artigo adaptado e
aumentado com aspetos mais recentes, queremos divulgar os resultados que apurámos aos visitantes
deste blogue.
Um relatório americano votado ao esquecimento
O Deutsche Bank pertenceu aos principais
financiadores da ditadura fascista de Hitler e foi quem mais lucrou com este regime de terror e a
II Guerra Mundial. É o que mostra, em mais de 400 páginas, o “Relatório do OMGUS” (Gabinete do Governo
Militar dos EUA para Alemanha) de 1946/47, que fora elaborado pela Comissão de
Finanças do Governo Militar ocupante dos EUA na Alemanha, após a capitulação do
fascismo alemão em 1945.
Assim diz o “Relatório” que o Deutsche Bank “utilizou o seu
imenso poder na economia alemã para participar na execução da política
criminosa do regime nazi no campo económico.” O banco tornou-se o maior da
Europa durante a II Guerra Mundial abastecendo “o Império [Alemão-coautores] com
fundos enormes para fins de rearmamento”, alargando “com muita agressividade” o seu poder nos territórios anexados pela
Alemanha, lucrando especificamente com a expropriação das propriedades judaicas
pelos nazis. “Recomendamos,” lê-se no prefácio, “que o Deutsche Bank seja
liquidado.” Os membros da Direção devem ser “acusados e postos em tribunal
como criminosos de guerra, os executivos do Deutsche Bank devem ser excluídos do
exercício de posições importantes ou responsáveis na vida política e económica
da Alemanha.”
Executivos do Deutsche
Bank e os Nazis
Um desses responsáveis
foi Hermann Josef Abs quem foi
chamado em 1938 para integrar a direção do Deutsche
Bank. Abs dispunha duma larga
experiência de negócios com o estrangeiro e possuía a confiança dos líderes
nazis aos quais também mandou oferecer meios financeiros substanciais. Assim, Himmler, o chefe do SS, a principal organização do terror industrializado nazi, recebeu
70.000 marcos por ano pelo Deutsche Bank.
Terá sido como agradecimento pelos bons negócios com os campos de concentração?
Máquina de morte nazi
Com pleno
conhecimento da Direção, o Deutsche Bank
participou no financiamento do Campo de Concentração em Auschwitz (Polónia). Assim concedeu, entre outros, créditos para a
construção dos estaleiros da ‘Divisão de Combate’ do SS em Auschwitz e da
fábrica química de Buna, pertencente a
IG Farben [um monopólio químico que,
após a sua dissolução forçada no pós-guerra, deu lugar aos três famigerados
monopólios de Bayer, BASF e Höchst – coautor]. Abs também era membro do Conselho Fiscal da IG Farben onde lucrou com a produção do gás Zyklon B que serviu para assassinar industrialmente milhões de
humanos nos campos de concentração. O Deutsche
Bank concedeu ainda créditos a empresas que construíram crematórios, rampas
e barracas em Auschwitz. Deste modo o
banco e os seus membros do Conselho Fiscal ganhavam não apenas através da
concessão dos créditos, mas também pela exploração dos trabalhadores forçados e
pela venda do ouro dental de milhões de pessoas assassinadas nos campos de
concentração – ouro dental esse que fora arrancado aos cadáveres e fundido em
barras!
Apropriação de propriedades judaicas
Abs dispunha de relações estreitas com o Ministério de Economia alemão, fazia
parte do Conselho do Banco do Império Alemão, pertencendo ainda a diversas
comissões da Câmara Económica do Império Alemão. De forma decisiva, Abs estava metido na expropriação das
empresas judaicas dentro da Alemanha e nos territórios ocupados. Era um negócio
sem riscos. Os proprietários judeus foram obrigados a vender a sua empresa por
uma ínfima parte do seu valor real. Aos compradores, muitas vezes
administradores, o banco concedeu os créditos necessários. Desta forma, o Deutsche Bank ganhou duas vezes: por um
lado, através da concessão do empréstimo e, por outro lado, tendo como novo
cliente a nova firma “arianizada”.
Fortunas com a II Guerra Mundial
Os membros do
Conselho Fiscal do Deutsche Bank exerciam
funções de controle nos conselhos fiscais das empresas alemãs de armamento,
como a Bosch, a Siemens, a Krupp, a
Mannesmann, a Daimler Benz e a BMW.
O próprio Abs ocupou, entre outros,
lugares nos concelhos fiscais da IG
Farben e das Deutsche Waffen- und
Munitionsfabriken [empresa de fabrico de armas e munições – coautores]. Nas fábricas destes monopólios
trabalhavam dezenas de milhares de trabalhadores forçados: maltratados e
esfomeados, muitos deles não sobreviveram ao terror no trabalho.
Entre 1939 a 1944,
o Deutsche Bank aumentou o seu volume
de negócios em 171%! Mal que o exercito alemão fascista tivesse entrado na Áustria,
o Deutsche Bank enviou um grupo de
executivos para a Viena, com a finalidade de garantir o controle sobre o banco
austríaco “Creditanstalt-Bankverein”.
Após a formação do Protetorado da Boêmia e da Morávia, o Deutsche Bank saqueou o „Union-Bank“. Após o assalto fascista à Polónia surgiram várias
filiais do Deutsche Bank nalgumas
cidades polacas. Deste modo, o Deutsche
Bank se espalhou por toda a Europa.
Derrota do Fascismo – o Deutsche Bank com “negócios como sempre”
Derrotado o
fascismo alemão em 1945, mas ao contrário das recomendações do acima citado “Relatório” americano, nem o Deutsche Bank foi liquidado, nem Abs e outros destacados banqueiros foram
responsabilizados pelo terror que incentivaram, apoiaram e com o qual arrancaram
inimagináveis lucros às suas vítimas. O objetivo político dos aliados
ocidentais sob liderança americana mudou depressa para a constituição da
Alemanha-Ocidental como base económica, ideológica e militar dum “roll-back” ocidental contra os jovens países
socialistas que então se estavam a formar na Europa, isto é, o desencadeamento duma
‘guerra santa’ contra o socialismo.
Foi deste modo que
o banqueiro Abs voltou à Direção do Deutsche Bank e aos conselhos fiscais
dos diversos monopólios alemães sob a sua influência, aliás, ainda em 2001, o
próprio banqueiro chegou a ser homenageado publicamente, na Alemanha. O próprio
Deutsche Bank nunca deixou de exercer
a sua atividade, tendo ascendido ao banco mais influente na Europa e em muitas partes
do mundo, atuando o governo alemão de Merkel como o seu ponto de lança estratégico.
Mudanças do poder económico-financeiro no mundo
Nos últimos cerca
de 30 anos têm havido alterações significativas na estrutura do poder económico-financeiro
a nível mundial, levando à formação e ao domínio do capital financeiro
internacional, ou seja, o entrelaçamento entre a banca internacional, os fundos ou
sociedades de investimento e os super-monopólios multinacionais e
multisectoriais. Após a transformação
capitalista completa do anterior ‘campo socialista’, o mundo inteiro tornou-se uma
área de incursão sem limites para a finança internacional, através das suas instâncias
internacionais, o FMI, o BCE, o G8/20, a OCDE, a Organização Internacional do
Comércio, a UE etc. No entanto, mesmo com a existência de tantos organismos de
“diálogo” institucionalizado, a concorrência passou a ser cada vez mais frenética
entre os seus participantes: os ‘amigos’ do capital financeiro internacional afinal
são profundos inimigos porque cada super-monopólio ou banco quer realizar o s e u lucro
maximizado!
O Deutsche
Bank – negócios sujos em todo o mundo
O banco movimenta-se à vontade nessa alcateia de lobos, aliás, por
interesse próprio tem contribuído ativamente na criação dos seus organismos.
Além dos seus ‘negócios de costume’, isto é, participações lucrativas em
monopólios multinacionais alemães, americanos e noutros, tem entrado em áreas
de especulação e de financiamento de negócios com efeitos terríveis para as
populações de países e continentes inteiros. Para este banco os humanos existem
apenas como cifras nas suas folhas de cálculo quando se trata apurar a sua rentabilidade
ou o “shareholder value”, ist é,
lucro.
A crise atual
Num debate televisivo, o banqueiro suíço Ackermann, ex-homem
forte do Deutsche Bank e até há
pouco, conselheiro principal da chanceler A. Merkel, descreveu o papel da banca
na atual crise económico-financeira: ”Na
crise da dívida existe uma corresponsabilidade dos bancos, primeiro, porque aumentamos
ainda o endividamento dos estados através das ações de salvação e, de
certeza, também porque, segundo, especialmente na Espanha e na Irlanda, enchemos
a bolha no mercado imobiliário [sublinhado por nós] através da concessão muito generosa de créditos, o que agora tem de
ser corrigido naturalmente.” ‘Natural’ para ele é obviamente que os acionistas
e especuladores mantenham o seu nível de ganhos!
A brutalidade esclarecedora de Ackermann sobre as políticas financeiras
do Deutsche Bank e do governo de
Merkel mostra que a proclamada ‘salvação’ financeira do país pela via sacra
neoliberal – como prega a fascizante corporação neoliberal de Passos Coelho,
Gaspar e Portas - tem um efeito oposto, isto é, contribui apenas para o aumento
do endividamento do nosso país. E não nos referimos ainda à imensurável miséria
e morte que as impostas medidas causam nas populações. De resto, a ‘salvação’ –
dos seus acionistas - já levou o Deutsche Bank a trocar as suas ações gregas por
ações seguras com a garantia de ‘segurança pública’, ou seja, o banco privado socializou
o seu ‘risco’ particular!
Especulação imobiliária
O Deutsche Bank está envolvido
em movimentações imobiliárias especulativas em várias partes do mundo, como,
por exemplo, nos EUA, na Espanha e na Irlanda. A imprensa portuguesa revelou
que este banco foi comprando os prédios e esvaziando sucessivamente prédios dos
seus habitantes de bairros inteiros em Los Angeles (EUA), com dezenas de milhares
de pessoas pobres à procura de casas com rendas acessíveis. O único objetivo
desta operação do banco era aumentar o valor dos imóveis e do terreno na bolsa.
Em Portugal, o banco criou as condições junto da banca portuguesa para inúmeras
concessões de créditos lucrativos à habitação no país. Na altura da assinatura
do contrato arrancou aos trabalhadores o que estes tinham nos bolsos, depois passou
a servir-se do cofre do estado português através das medidas da Troika. Assim o
banco ‘petisca, mas nunca arrisca’, ao contrário de que conta a lenda
mistificadora sobre o ‘nobre ofício de risco pessoal do capitalista’. É sempre o
estado burguês – grego, português,...alemão - que garante os seus lucros. Os
trabalhadores, esses é que pagam antes e depois - em todos os países por onde
passe a especulação mobiliária.
Financiamento de bombas de fragmentação e de armamento de guerra
Na linha da sua
tradição bélica dos tempos nazis, o Deutsche
Bank concedeu créditos para a construção de material bélico em vários países
como, por exemplo, nos EUA. Assim as empresas de guerra americanas Textron Incorporated, General Dynamics e a Lookheed Martin Corporation, entre outros,
receberam financiamento do Deutsche Bank
para a construção das proscritas bombas de fragmentação (Heck 2012) com os
conhecidos efeitos mutiladores terríveis nas pessoas.
Os estaleiros
alemães que venderam os submarinos a Portugal, bem como à Grécia, à última com
chantagem financeira do governo de Merkel, onde é que as empresas envolvidas,
como os países compradores terão encontrado o financiamento necessário? São esses
créditos que fazem hoje parte das “dívidas” que o capital financeiro e os seus
respetivos governos-lacaios nos tentam cobrar a nós!
Especulação com a Fome no Mundo
O ”Foodwatch-Report de 2011”, o relatório
duma organização não-governamental, observa as condições de financiamento,
produção e distribuição dos bens alimentares no mundo. O relatório expõe como a
pura especulação com o trigo, milho, arroz, óleos, leite e outros bens
alimentares nas ‘bolsas de matérias-primas’ - pelo Deutsche Bank, Barclays, Morgan Stanley, UBS e Goldmann & Sachs - tem
contribuído para o brutal aumento dos seus preços, tornando-se cada vez mais
inacessível a alimentação para as populações pobres em grandes partes do mundo.
Assim, dois mil milhões de pessoas, sobretudo de África, da Ásia e da América
Central gastam já a maior parte do seu rendimento na alimentação. Desnutrição,
fome e morte são as consequências mais cruéis do aumento dos preços, tendo
levado as massas populares de 61 países a revoltarem-se em 2008. As sublevações
contra a fome e repressão mais conhecidas entre nós receberam a designação mistificadora
de ‘Primavera Árabe’.
Além da mera
especulação bolsista, o Deutsche Bank,
à semelhança dos outros, entrou também no comércio-especulação com matérias
primas, também alimentares, através da compra e do armazenamento em grandes depósitos,
navios-depósitos ou condutas, forçando a subida dos preços dos produtos através
do seu rareamento sistemático nos mercados.
Expropriação de terras em África, Ásia e Ámerica
Latina
Através dos seus DWS-Fonds e da Deutsche Asia Pacific Holding, um joint-venture do Deutsche
Bank, este banco faz investimentos em terrenos no Congo, na Tanzânia, na
África do Sul. no México, na Índia, no Laos, no Vietname etc. (Heck 2012). A ‘compra’
de terras passa pela associação a governos centrais ou locais dos respetivos
países para garantir a expropriação e o afastamento efetivos dos pequenos
camponeses que são expulsos violentamente das suas propriedades. Assim perdem o
seu sustento, vagueando nas periferias das grandes cidades, tornando-se vítimas
duplas da especulação alimentar e da especulação à volta das suas terras. Os
seus terrenos são juntados em terrenos de grande dimensão que servem como
exploração lucrativa aos monopólios agrícolas ocidentais e outros.
Fontes:
-
US Military Government in Germany. Finance Commission (1946/7). “OMGUS Report.”
-
vários artigos ou notícias
em diários portugueses sobre o Deutsche
Bank a respeito da especulação imobiliária e de ações e processos em
múltiplos tribunais etc. (2011/12)
Novembro 2012